Olhando em retrospectiva parece que os churrascos com amigos foram adiados lá para Junho. Mas, sem fazer batota, segue o artigo original:
Início de Março, dias quentes, mas sem queimar. Cheira que a época dos churrascos, que misturam almoço com jantar está prestes a chegar. É altura de limpar o grelhador e encher os fermentadores para tudo estar pronto a tempo.
E de que melhor maneira se harmoniza um churrasco? Cerveja, leve, fresca, aromática e alguma acidez. Vamos a isso.
Num actual mundo cervejeiro que gira em redor de cervejas com fruta, lactose, ou elementos de doçaria, cada vez mais a simplicidade e subtileza de uma cerveja teimam em querer reconquistar-nos.
Cada vez mais a serem tema de discussão, as Table Beer, figuram várias vezes como as próximas tendências a surgir no mercado, the next big thing. No entanto é um estilo, como muitos outros, com uma origem confusa e nem sempre clara.
Olhando para as grandes escolas cervejeira, existem menções a Table Beer quer em Inglaterra quer na Bélgica. Significa isto que seriam o mesmo estilo? Provavelmente seriam bastante diferentes…
Antigamente, era rara a utilização de estilos para definir cervejas. O que, por exemplo, gera uma grande confusão na – eterna – discussão: Porter vs Stout.
Por isso, hoje em dia o consumidor, e alguns produtores, olham para Table Beer como uma cerveja com presença de lúpulo americano, cor clara e um grau alcoólico baixo. Sem dúvida que estas cervejas existem, têm o seu lugar no mercado e são procuradas pelo consumidor. E podem até vir a definir o estilo Table Beer no futuro, mas em nada se comparam com o conceito histórico.
As interpretações contemporâneas deste estilo histórico, são maioritariamente inspiradas na escola belga, as restantes trazem propostas mais modernas. E é nessa componente histórica que nasce, também, a nossa inspiração. Trabalhando elementos comuns, como nos relatos antigos deste estilo, pusemos mãos à obra na criação da receita. Cerveja simples, quer de fazer quer de beber. Acompanha a refeição, acompanha a preparação da refeição. Sem complicações.
Uma base de fermentáveis pouco complexos, tentando incorporar elementos rústicos como o trigo duro e espelta. Aromas de lúpulo nobre e leve amargor para balancear. Balanço. Essa é sempre a chave. Aqui não há adjuntos ou adições de secundário. Para o carácter desta cerveja, oferecemos o leme à levedura. Ou nas leveduras. Afinal são elas que fazem a cerveja, nós só fazemos mosto.
Para começar, nada mais adequado e rústico do que uma levedura de Saison. Afinal, uma Table Beer também pode servir para tirar a sede a uma pessoa, no final de um dia de trabalho. Depois, sendo esta receita inspirada pela Jester King Le Petit Prince, aproveitaram-se as culturas restantes no fundo de uma garrafa para, após propagação, serem adicionadas também ao mosto, para trazer a acidez característica da cervejeira do Texas.
As cervejas de baixo grau, mais simples, podem parecer de mais simples execução mas, pelo contrário, são cervejas que precisam de muitos cuidados, já que qualquer falha facilmente vem ao de cima. Esperamos cerca de 6 semanas, mais algum tempo no barril, para esta cerveja poder evoluir e deixar a cultura mista dos dregs pronunciar-se.
Já se pode acender o lume?
Table Beer
Lote: 20L
Total cereal: 3.25 kg.
Denside inicial: 1.036
IBU estimado: 20
Eficiência: 70%
Tempo Fervura: 90 minutos
Cereal
84.6% – 2.75 kg. malte pilsner
7.7% – 0.25 kg. malte espelta
7.7% – 0.25 kg. trigo duro
Hops
60 gr. Savinjski Goldings (pellet, 2.70% AA) @ 60 min.
60 gr. Savinjski Goldings (pellet, 2.70% AA) @ 5 min.
120 gr. Savinjski Goldings (pellet, 2.7% AA) @ dry-hop 15 dias
Extras
Nutriente levedura @ 5 min.
Levedura
Wyeast 3711 French Saison
Bottle Dregs “Le Petit Prince”
Água
Ca: 153
Mg: 30
Na: 28
Cl: 73
SO4: 199
Cl to SO4 Ratio: 0.37
Brassagem
1ª Sacarificação – 30 min. @ 63ºC
2ª Sacarificação – 30 min. @ 72ºC
Mash-out – 15 min. @ 78ºC
Um dos problemas do mundo da cerveja artesanal, na minha opinião, é mover-se excessivamente a reboque do que se faz nos Estados Unidos. Sem querer de forma alguma desconsiderar o papel importantíssimo que os nossos amigos americanos tiveram no estimulo da creatividade e na recuperação de muitos estilos de cerveja que já quase tinham desaparecido, tenho alguma pena de assistir a algumas coisas que se passam por causa deste fenómeno. Eu dou um exemplo, olhemos ao interesse que as sours têm despertado nos últimos tempos; convenhamos, sour beers não são propriamente novidade, há uma tradição antiquíssima de sours na Bélgica, em zonas da Alemanha, e já nem quero ir longe ao ponto de me questionar se muitas cervejas do antigamente, do pré white labs/wyeast/imperial yeast, não teriam tido algum elemento de sourness. Teriam as sours despertado a mesma atenção se os americanos as não tivessem descoberto e revelado interese nelas?
Há muito tempo que me espanta não se investir um pouco mais precisamente neste tipo de cervejas, mais leves mas diferenciadas e desafiantes para o paladar, chamemos-lhes table beers ou session beers ou outra coisa qualquer… e desafiantes tecnicamente também, porque fazer uma cerveja leve não é difícil, mas uma que não seja desinteressante já custa um bocadinho mais, parece-me. Bem conseguidas, estas cervejas podem ser uma boa forma de captar para o “lado de cá” consumidores que estão acostumados às cervejas industriais correntes e que têm mais dificuldade em entrar nas IPAs, DIPAs, TIPAs, NEIPAs, Imperial Stouts e outras cervejas que, para nós, são dado adquirido.
Era bom saber como resultou essa depois de pronta, fico à espera de ler alguma coisa…
Saúde!
A abordagem Americana é quase sempre “Bigger and Bolder”. Se as vezes isso funciona bem em alguns estilos como as IPAs ou as Stouts, nas sours ou nas cervejas mais refinadas, acho eu, pessoalmente, que não funciona tão bem.
Concordo que estas table beers e cervejas do género mais leves, podem servir para passo intermédio de entrada no craft.
A Patersbier que aqui está no blog por exemplo ficou fantástica e está daquelas cervejas leves mas cheias de sabor e fácil de beber uma tarde inteira. Espero que esta vá pelo mesmo caminho. Logo daremos novidades. Cheers!