Fumos de Primavera

“…Era manhã de primavera.
Tinha o frescor da brisa leve, tinha passarinhos entoando poesias.
No riacho, a dança das águas serenas.
O desabrochar da rosa, a beleza das borboletas.
Não tinha luxo nem pressa, só amor e contentamento.”

Jeh Paranhos

Esta cerveja podia ter começado como este poema… Só que não, não foi assim.
Era manhã quando foi feita sim, mas de Inverno. Estava um frio do caneco.
Nos campos, a geada brilhava enquanto derretia ao sol e lançava no ar uma neblina, qual cortina de fumo que anunciava o que aí vinha.

A brisa, na fábrica, essa sim era de aromas fumados, de malte e bacon. Aroma de barona. Não poderia ser mais apropriado.

Não havia passarinhos nem borboletas. Apenas sacas de malte, homens rudes arregaçando as mangas, entregado-se ao labor, ao ritmo do som ensurdecedor do moinho de malte e da sinfonia das bombas dos tanques. Uma orquestra capaz de carregar todo aquele cereal para dentro da cuba com determinação.

Nem a falta de electricidade a meio da brassagem nos demoveu. Sim, porque uma cerveja Brett Hotel tem sempre de ter algum percalço para alimentar uma história. Ou não seríamos nós… Se o dia tinha iniciado bem, a brassagem ameaçou por momentos estragar-nos os planos. Mas nada que as gentes do Alentejo não consigam resolver. A uma chamada telefónica de distância a solução chega em poucos minutos.

Também não havia riacho com água, mas tivemos sempre copos onde fluía o liquido mais antigo e precioso feito pela mão humana. E alimentados pelo néctar (e por uns abanicos de porco preto tão bons…) prosseguimos marcha, como na tropa.

O mosto dança entre os tanques para filtragem, mas acaba liquido e pronto para a fervura. Tempero de lúpulo como o Salt Bae, momento para aquele “photo-op” de grupo e para receber mais amigos da família cervejeira. Mas apenas por instantes, pois é preciso continuar a labuta e deixar tudo limpo.

Continuamos a jornada, para findar o dia e dar lugar à noite. Tal como se finda o Inverno e se segue a Primavera. Como o mágico que desaparece no meio da fumaça para reaparecer de novo mais à frente. Aqui deixamos para a levedura o trabalho de fazer a sua magia, inoculamos cerveja e cervejeiros também. Deixamo-la acomodada no fresco do inox, controlada a baixa temperatura onde aquele mosto pudesse florescer e transformar-se em néctar cervejeiro.

E agora, o que dali desabrochou, após merecido período de maturação, não são rosas, senhor, mas sim fumos. Fumos de Primavera, a reinterpretação desta Pilsner fumada que fizemos em tempos, agora em colaboração com os nossos amigos alentejanos. Disponível de forma mais acessível para vocês, nas torneiras dos bares de especialidade de Norte a Sul, pela mão, trabalho e suor da Barona.

Hum… Pensando bem, na realidade a última frase bate certo.
Não teve luxo, nem pressa. Só amor e contentamento.

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