Provas e Trovas #2

Marca bonita, 10+1 cervejas produzidas, embaladas e provadas. Faz esquecer, ou pelo menos distrair do ano estranho que vivemos. Fins de semana descomplicados em que o tempo pára, pára para nós, em que exploramos um sem fim de possibilidades. Algumas vêem a luz do dia, as outras ficam no nosso imaginário.

Mais um conjunto de provas, confirmações, surpresas e desilusões. O mundo das fermentações é dos mais recompensadores mas também dos mais traiçoeiros. Depositamos toda a nossa energia, convicção e certeza num produto que tem vida própria e nem sempre se alinha com a nossa vontade. Fazemos simplesmente mosto, compete-nos depois criar as melhores condições para a levedura prosperar.
Sim, as leveduras são os nossos filhotes, e às vezes também se peidam.

Parágrafo emprestado do primeiro artigo dedicado à prova das cervejas, que continua actual:
“Como provar algumas destas cervejas? Falem connosco, escrevam uma mensagem, em troca de uma boa conversa temos todo o gosto em partilhar convosco o (pouco) que fazemos . Fiquem também atentos aos encontros de homebrewers espalhados pelo país, dizem que vamos aparecendo. Não demorem muito porque algumas destas desaparecem numa tarde…”

Aprender com o passado, viver o presente e preparar o futuro, qual o limite para a criatividade? O que nos parece inusitado hoje é amanhã o novo normal. Seguir tendências ou criar novos produtos? Esse resultado é a soma da experiência, das vivências, dos momentos e das memórias, tudo para amanhã ser melhor. Fiquem connosco, a viagem ainda agora começou.

Wheatwine com Golden Grahams em fermentação aberta

Prova

Aroma ligeiro a canela, trigo presente e ésteres da fermentação. Entra viscosa, complexa, com notas intensas a mel e alguma especiaria, remate quase salgado com um final adstringente. Uma cerveja com uma nota de prova longa, que perdura no fim de boca.

Trova

Talvez seja cedo para tirar conclusões, mas a verdade é que não há livros que nos ensinem a brassar cereais de pequeno almoço numa cerveja. O que faltou? A abordagem? As quantidades de sais e vitaminas para tornar os pequenos mais fortes? Não sabemos.
Uma cerveja que procura o seu espaço mas que ainda não o encontrou. Há potencial. Se vai encontrar o seu rumo? Só o tempo o dirá.

Nunca se deve saltar o pequeno-almoço
Pilsner Fumada

Prova

Aroma fumado a lutar com o perfil frutado da levedura, ninguém leva a melhor. O lúpulo escondido, até ao fim, nunca é chamado. O fumado aparece mais ou menos conforme a temperatura da cerveja. Demasiado fria e nem se dá por ele, à temperatura certa dança na boca com a percepção de doçura, embora com um final seco.

Trova

Helles, Pilsner, Czech Pils, Dortmunder Export? Pá, pois…
Não só é desafiante categorizar estes estilos mas também executá-los. A prova aproxima a cerveja a uma Munich Helles e não a uma Pilsner (ignorando o malte fumado utilizado). O amargor é baixo, talvez de mais, embora seja fácil de beber e repetir.
Se alguns alemães ainda fazem maturações de 6 meses, oiçam-nos, eles sabem o que fazem. Se fazem decocção, oiçam-nos. Tudo isso tem uma razão, ainda que nos possa ultrapassar. Podemos não compreender, mas no final do dia o puzzle monta-se sozinho. Já o puzzle das fichas triplas no quintal é que seria valoroso obter ajuda – talvez um alemão…

O almoço também é importante. Pilsner fumada, salsicha e entremeada, A match made in heaven
Cerveja de Mesa V1

Prova

Lúpulo no aroma, notas fenólicas da cultura mista, de saison e brettanomyces. Baixo corpo, perfil limpo mas lupulado na boca com um remate de acidez e amargor.

Trova

Um caso bicudo, a adição de lúpulo em frio foi claramente avassalador, um amargor vegetal adstringente, uma cerveja confusa às portas do abismo. Haja tempo, paciência e quem acredite que todas as histórias podem ter um final feliz. Quase descartada antes do embalamento, quase descartada na primeira prova, depois de maturação prolongada em frio, mas no fim tudo ficou bem. Saiu do nosso controlo, deixou de ser a cerveja que escrevemos mas foi o prólogo para uma história de sucesso. E há histórias que marcam, ficam, não precisam de ser contadas outra vez. Ou precisam, o futuro é incerto e nada pode ser dado como adquirido.

A acompanhar. Em cima da mesa ou em cima da Lindr, também serve…
Sour de Tepache

Prova

Aroma ananás, boca ananás, fim de prova: ananás!
A base, maltada mas bastante simples, permite o ananás brilhar. A acidez robusta e carbonatação média confundem-na com um Tepache, sem nunca perder a identidade de cerveja na prova.
Começa e acaba com ananás, refrescando gole após gole. Ficou clara a parte do ananás?

Trova

Uma grande surpresa, ao embalar parecia que a Brettanomyces juntamente com a casca de ananás tinha tomado conta da cerveja – e não de uma forma agradável. O lactobacillus, presente na cerveja acabada, ao que parece, ainda não tinha dado tudo o que tinha ao seu alcance. Depois de descansar em garrafa os sabores, em camadas, uniram-se e juntos fizeram uma cerveja melhor, bem melhor.
PS: Também saca um Mojitos de ananás bem porreiros.

Não saltar a fruta que faz bem à saúde. Um bocado de Ananás na tua vida melhora tudo.
Old Ale à moda do Old Fashioned – Parti-Gyle English Bitter

Prova

Na Old Ale, aroma citrino de laranja e com bastantes ésteres de fermentação, complementado por um caramelo em segundo plano, ligeira nota mineral e a madeira, whisky discreto. Na boca entrada de laranja e citrinos, corpo médio, arrastando os caramelos até ao fim onde se confundem com o amargor residual. Corpo no ponto certo para aguentar esta mescla de sabores. No fim de prova a madeira e whisky ganham destaque, equilibrados pelo final mineral da cerveja.

Na Bitter, outra cerveja fantástica de se beber à pinta. Se é isto que tanto se fala de table beers, pois venham elas. Leve, mas nem por isso desenxabida. Percepção de caramelo q.b., corpo suficiente para não pesar na prova e sabor final ligeiramente doce. Como outras, foi para o keg e marchou numa tarde.

Trova

Há gajos com sorte – e nós temos sorte. Este é um dos melhores 2 em 1, de sempre. Duas cervejas e ambas boas. Parece que todas as decisões foram as certas, levaram a cerveja até aqui. Algo raro, com tantas variáveis em jogo, alguma falha – acreditem – falha. Aqui não, tudo correu como esperado. Queremos repetir mas há cervejas irrepetíveis – especialmente na nossa humilde escala. É aproveitar o momento, surfar a onda e desfrutar da vitória. Está de caralho! E a melhorar com o tempo.

Para digerir tudo, a Proper Gentleman’s pour

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