Provas e Trovas #3

O verão parece que já lá vai há uma eternidade, muita coisa mudou. O que não mudou foram as nossas provas de cervejas, e produções, mas isso já sabem.
Vira o disco e, claramente, não toca o mesmo. Estão ligados os holofotes para mais uma sessão. Até devíamos arregaçar as mangas mas já faz frio lá fora. Portanto, mantas nas pernas, Imperial Stout na mão e aqui vamos nós recuperar o tempo perdido. Desculpem qualquer coisinha pelo atraso.

Arrancamos sem ordem nem preferência, tal como as cervejas, que estão prontas quando estão. Deixar a natureza e as leveduras falarem por si. Talvez as primeiras, desta lista, sejam as que marcaram mais, quer pela prova quer pelo processo, ou então não, é tudo simplesmente aleatório.

Um parágrafo emprestado ao primeiro artigo, e outro ao segundo. Dedicados à prova das cervejas, continua actual, é bonito e faz-nos parecer mais profissionais:
“Como provar algumas destas cervejas? Falem connosco, escrevam uma mensagem, em troca de uma boa conversa temos todo o gosto em partilhar convosco o (pouco) que fazemos . Fiquem também atentos aos encontros de homebrewers espalhados pelo país, dizem que vamos aparecendo. Não demorem muito porque algumas destas desaparecem numa tarde…”

Aprender com o passado, viver o presente e preparar o futuro, qual o limite para a criatividade? O que nos parece inusitado hoje é amanhã o novo normal. Seguir tendências ou criar novos produtos? Esse resultado é a soma da experiência, das vivências, dos momentos e das memórias, tudo para amanhã ser melhor. Fiquem connosco, a viagem ainda agora começou.

Agora só vos falta uma cerveja na mão para nos seguirem, apoiem a cerveja local, seja numa fábrica, num bar, na rede ou presencialmente. Mais do que nunca a cerveja portuguesa precisa do apoio de todos nós. Juntos criámos algo que não existia e que há tão pouco tempo parecia uma miragem. Não o deixemos escapar agora.

Haze Boyz

Prova

Aroma complexo, mistura entre lúpulo, framboesa, maracujá e notas doces, ainda que residuais, da lactose, baunilha e fava tonka. Nada se destaca nem se sobrepõe, juntos criam uma força maior, sugerindo goiaba, um pouco mais doce. Fdx isto cheira goiaba como sei lá o quê. Tem se revelado um aroma fraturante, que facilmente cai em diferentes pratos da balança. Na boca apresenta maior equilíbrio, transportando os aroma de goiaba para a boca, aqui, oferecendo maior delicadeza, e maior clareza no que quer oferecer. Um jogo de lúpulo, fruta e malte tão equilibrado quanto 6 bolas de gelado todas misturadas podem ser.
Final com ligeiro amargo e refrescante acidez, realçando o maracujá e escondendo a framboesa, que pede mais um trago.

Trova

O que dizer? Olhando para a premissa, foi um sucesso. Olhando para a cerveja? Talvez haja espaço para melhorias. Olhando para o processo? Não fomos tão felizes quanto parecia nas nossas cabeças. Felizmente o destino alinhou-se e tudo se deu. O aroma fugiu para sitios desconhecidos, talvez pelo excesso de elementos a competir e, claramente, ninguém ganhou o jogo. A boca, inicialmente, arrancou com um amargor a rasgar que nem entradas do Bruno Alves, com tempo equilibrou e agradou. Estranho? Bastante. Viciante? Bastante. Repetir? Quem sabe.

My milkshake is better than yours…
Grape Kveik IPA

Prova

Aroma a fruta vermelha, pêssego, resinoso, boa sustentação de malte na base. Na boca traz os aromáticos, sublinhando as notas terrosas e herbáceas. Cor avermelhada, com laivos castanhos, corpo médio, final redondo com amargor assertivo e com um arrasto ligeiramente adstringente. Cerveja de fácil trato, embora desafiante no palato.

Trova

Muito se fala em grape ales, o que são? Tudo e nada, nada e tudo. Existem inúmeras, aliás, infinitas formas de abordar e misturar os conceitos de cerveja e uvas. Com uns tímidos 5% de Uva para o total de cerveja a presença do aroma é incrível e bastante presente, nunca nos passou pela cabeça. Faltou extrair um pouco mais de cor, mas é um conceito com potencial. Com pouco se vai longe e as uvas revelaram um personalidade inesperada. Vamos continuar a fazer Grape Ales, o nosso país merece, mas, por favor, façam mais do que “só” Saisons – arrisquem.

Gosto da minha Kveik Grape IPA sprinkled, not stirred.
Red Ale com Kombucha

Prova

Mais uma batalha pelo papel principal, este nem a Adelaide Ferreira conseguia ganhar. Base belga, fenólicos a espreitar por detrás das cerejas e groselhas. A Kombucha traz o tradicional “funk” e empresta notas semelhantes a vinagre, embora muito ténues. Na boca o caminho não é claro, sobressai a fruta, o caramelo da cerveja base, e notas de chá. Mas falta mais presença da Kombucha e da cereja. No final de prova arrasta-se uma adstringência de chá e cascas de groselha acompanhada de uma acidez leve.

Trova

Umas ganhas, outras perdes. Importante é participar e dar o teu melhor. Nós demos, mas bem sucedidos, nem por isso. Estes são os riscos, nunca os negámos, sempre num jogo vertical. A soma da partes nunca foi superior aos elementos individuais, e esse é o segredo na arte de blending, criar algo que seja maior que a soma das suas partes. Ao blend falta mais presença da Kombucha. Saímos derrotados mas de cabeça erguida, prontos para a desforra, não será o nosso fim em nenhuma das frente, nem cerveja nem kombucha.

Clássicos tugas. Red ale de Kombucha, ginginha e chocolate.
Black Gose

Prova

Hibiscus e laranja no início, ésteres, alcaçuz e melaço no meio, coentros e maltes escuros a dar base lá atrás. Na boca tudo se junta e, agora sim, a soma da partes torna-se em algo maior. Frescura na entrada de prova, acompanha com melaço e maltes escuros, remate com um doce salgado equilibrado pela acidez do sour mash. Uma dança sensual entre aromas e sabores que faz qualquer um perder o sono.

Trova

Se houvesse jackpot cervejeiro acho que seria isto. Cerveja onde tudo correu bem, oferecendo elementos únicos, nascida de uma brincadeira em tempos de confinamento. Ficou a resiliência e ausência do medo de falhar e de ser criticado, o que parecia um tanto tolo no papel revelou toda uma nova dimensão. Se alguma das nossas mães bebesse cerveja ficaria, certamente, orgulhosa dos putos. Ah, e ostras, ostras são uma harmonização galáctica para esta cerveja. Desculpem a foto.

Black Gose com ostras. Quem nunca?
Kottbusser NE IPA

Prova

Fruta branca, pêssegos, alperces, um sem fim de fruta no aroma, ligeiras notas a mel. Na boca, aveludada, temos o trigo a carregar às costas as notas frutadas e lupuladas. No fim de boca perdura um amargor firme mas sem adstringência. Reminiscências de mel no arrasto da prova.


Trova

Correu bem, pronto, foi isso. Lúpulo velho, pelos vistos bem conservado, ainda tinha algo para oferecer.
Estilos desconhecidos, sem ponto de comparação. Se se compara a uma Kottbusser original? Se conhecerem alguém que tenha provado uma, digam-lhe para falar connosco. Porém, com uma fermentação controlada ao pormenor, foi possível potenciar as notas frutadas, espremer ao máximo o que tinha para dar. O melaço nunca apareceu na prova, fazendo questionar qual a verdadeira utilidade. Na dúvida é fazer igual.
Dica de borla, whirpool stand a 80ºC-90ºC, nem precisam de dry-hop.

Them NEIPA fat glasses. Quase parece um pêssego.

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